Páginas

domingo, 4 de julho de 2010

Hoje é a melhor ocasião

Não tenho o hábito de guardar nada para uma ocasião melhor. Vinho, vestido, sapato, anel, bolsa... Tudo o que eu compro ou ganho, uso na primeira oportunidade cabível. Sei lá se haverá outra oportunidade... Com esse cenário de tanta violência, é possível que eu leve um tiro na próxima esquina, como também é possível que eu lá encontre algum pedaço de saudade boa na imagem de alguém querido. Se eu me encontrar com Nelly Carvalho (uma amada ex-professora), já posso dar o dia por ganho. Aliás, foi exatamente o que aconteceu hoje pela manhã. Cruzei com uma das mulheres que mais me inspiraram e incentivaram a escrever. E, em três avaros minutos, Nelly me fez desbloquear e voltar ao teclado após quase duas semanas sem conseguir colocar palavras nos meus sentimentos.

Acho que não há ocasião melhor para fazer algo do que quando estamos com vontade de fazê-lo. Eu vou lá esperar um convite para jantar para usar meu scarpin vermelho? Não! Eu uso logo para trabalhar e pronto. Ponto. Os que pensam diferente dizem que vontade é uma coisa que dá e passa... Mas eu não quero passar vontade. Eu quero viver tudo logo porque não posso ter certezas concretas sobre o amanhã. Eu quero ter a consciência do hoje, sem me preocupar arduamente com um futuro que não é desenhado exclusivamente por mim, mas pelo acaso. Se todos os nossos planos e projetos seguissem sempre da forma como nós os traçamos, aí a pena valeria... Mas sempre vem o destino e tudo muda. Meu dia seguinte não depende apenas de minhas ações.

Foi com esses argumentos que cheguei à casa de uma amiga, que guardava a sete chaves e há sete anos uma garrafa de Brunello Montalcino Biondi Santi para os quinze anos da filha. Como ela ainda não conseguiu engravidar, apesar dos inúmeros tratamentos do marido, eu quis convencê-la de comemorarmos o dia de hoje, fazermos um brinde à respiração, à chuva, ao décimo quinto andar do prédio ou à mudança (para mais) da graduação dos meus óculos. Melhor: façamos um brinde à inteligência e sensibilidade de Nelly Carvalho!

Recalcitrante e pirangueira, ela chorava lágrimas secas, dizendo que a preciosidade era para o début de Dafne. Dafne? Minha nossa, a cada novela que se passa, ela muda o nome da filha. A menina nem foi gerada, mas já foi chamada de Donatela, Flora, Lara, Capitu e até Lindalva. Deixando a não concebida de lado, convenci a amiga de que abrir o vinho nos faria rir muito.

Taças de cristais a postos, saca-rolhas em posição e pronto! Iríamos beber um dos melhores vinhos do planeta. Qual o quê! A cor da bebida já era o prenúncio de que algo não ia bem. Ao primeiro gole, declarei: avinagrou! Ela disse que era impossível, porque estava na adega e que a rolha, e que o tempo, e que a safra, e que a garrafa, e que o tempo...

O tempo passou, o vinho passou e nós também passamos. Eu é que não deixo a felicidade para amanhã...

Um comentário: