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quarta-feira, 13 de junho de 2007

Se não vens


Se tu não vens, vejo névoas
E nada mais será nítido
Aos olhos trêmulos de amor.
E não há trégua para a saudade,
Ora insana, ora lúcida.
Presa numa vã liberdade
Que só alimenta essa dor...

Se tu não estás, não mais durmo
Na falta do teu respirar
Procuro o cheiro do corpo,
Tua mão a me provocar.
Se tu não estás, não há sono
Então, para que descansar?

Então, só me resta escrever
Em noite que não se finda.
Tentando, quem sabe, colher,
O texto de um afeto ainda.

Dormir já não me pertence
Alento nenhum me invade
Apenas letras e rimas
Unidas em minha verdade
Senhora da minha sina.

Mas, se tu vens, desencanto
Como se pudesse sonhar
Como se não houvesse mais pranto
E nada a me atormentar
Como se, enfim, tua presença
Viesse a mim, clarear
A triste treva de querença
Que se esvai...
Tão logo teu sorriso chegar...

sexta-feira, 1 de junho de 2007

INSONE

Sem ti, não posso dormir,
Falta-me o teu respirar
Teu, cheiro, teu peito, tua mão
Teu calor a me abraçar
Olho para o lado e não te vejo
De que me adianta sonhar?
Se o homem que tanto desejo
Não está aqui pra me acordar...
E tu me acordas docemente...
Carinho na face, beijo na boca,
É algo um tanto inocente
Com outro tanto a me desejar.

VIDA DE CARACOL

Duas metades separadas
Como sangue que verte sem lágrima
Como chuva que cai sem cheiro
Como livro que se lê sem página
Como dor que se sente primeiro

Olhos de mágoas imundas
Insônia, cansaço, maldizeres
Não vemos a ânsia profunda
Nem enxergamos amores e quereres

És um todo e de ti sinto falta
Como se não mais conseguisse caminhar
Sem teu verbo, sem tua alma
Sem tudo de ti a me alarmar

Pesa-me a muito vida
como se não merecesse o mundo
Mais uma vez se abre a ferida
Antes estancada em sono profundo.

Não vou prosseguir sem tua mão
Pois onde piso tenho medo
Deixa-me aqui ou toma este coração
Que para ti nunca teve segredos

Estamos em terreno alheio
Só conhecemos o caminho de volta
Ou este amor diz a que veio
(e abriremos todas as portas)
Ou nos fecharão o destino.
E, sendo assim, no fim do fascínio,
Rasgaremos a página morta.

Veremos lágrimas e veremos riso
Sem esquecer a maior essência
Aquela, o desatino do siso,
A que nos faz perder a ciência
A que nos impele um para o outro
Na mais tolerante paciência
A que nos une no amor mais louco.
Na mais primitiva querência