Páginas

sábado, 29 de março de 2008

DEZEMBROS

O que mais sinto falta em mim é minha saudade.
Mas não uma saudade incerta, ao léu, deserta...
Sinto falta de sentir falta de algo inexorável...
Ida e volta, sofreguidão, alívio, choro e riso
Estado lastimável de sombra apática
Colhendo as sobras dos desejos alheios.
A dor é prática. Meu pensamento, não.
Meus lamentos perpassam meus anseios
Dores se disfarçam em rótulo de mulher brava
E em tudo aquilo que eu sonhava
Eu mesma pus os arreios.
E ao olhar para mim mesma
Cresço-me por não ser mais a menina
aquela da sina repetidamente rejeitada.
Sou-me eu e minhas circunstâncias.
Brava mulher de amores e ânsias...
E, mesmo assim, no topo dessa segurança,
ao olhar para o lado, com os teus olhos
Só vejo pessoas melhores...
como se eu nunca fosse o bastante,
o suficiente, o desejável...
Por mais que eu corra, não chegarei a ti
Por mais que eu tente,
Por mais que eu morra,
Tudo será em vão.
Escuto calada a frieza de teu silêncio
Talvez para adiar mais uma dor.
E, ao mesmo tempo, perfaz-me a certeza
de saber o meu caminho
que não é mais teu.
Pois tu me deixaste tão sozinha
Que o abandono me levou ao medo
E meu segredo foi desvendar-me
E saber que não te sei.
Ficava tão à mercê da tua querença
que tua presença foi se ausentando de mim.
Não tenho saudades tuas, mas queria.
Lembro apenas de coisas boas que nao se repetirão.
E, ao selar mais esta carta, um fato me apraz
Eu me digo que consigo seguir para o novo
de novo e sem medo.
Sem olhar para trás.