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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

BUSCA

Eu te buscava e não te sentia...
E te procurava entre árvores, entre pássaros,
cercando-me de anseios...
Meus olhos não te viam
e não te vêem
Nem estás, nem estarás em mim
Não sei por que deve ser assim,
mas meu querer em si
não se basta
E eu própria não me basto.

domingo, 21 de setembro de 2008

MARES

O que hoje me faz estancar
são ondas de um fogo que não amaina,
pois vejo teus verdes onde respiro.
Se houve um assim sentimento,
não me recordo.
Nem quero fazê-lo.

Torturo-me em sonhos inacabados
por não ter permissão em desfazê-los,
com o vento me desalinhando a vida,
seguindo os passos do ontem.
Mas o passado não me basta,
o futuro me nega
e restam alguns instantes
em que repouso minha caneta
na vã tentativa de encontrar-te

Não sei onde andas e se me tens pensado
Não sei

Não te demores neste outono
ou passarei a vida escrevendo meus dias mornos.

O que de mim emana hoje
nem mais são palavras nem versos,
apenas resquícios de todas as dores
que meu sorriso provocou.

sábado, 20 de setembro de 2008

MINHAS SENHAS

Venho passando minhas décadas ao lado de minhas letras,
palavras que são companheiras,
alentadoras desse sofrimento que não consigo expulsar

Mesmo quando sorrio, ele me persegue
Ainda que em êxtase, está lá ele.
e de mim não sai

Por isso, escrever é minha morfina
Mais forte que o choro,
que orações
que mãos amigas ou irmãs
Escrever, sim, expurga-me de mim mesma

Quando era menina
e achava que sabia muito do mundo
estávamos eu e um fiel diário de anotações
com um cadeado para que ninguém me violasse mais
Quando era jovem
e tinha certeza de que sabia de tudo na vida
apenas o papel compreendia meu mundo
mas rasgava tudo para não revelar minhas fragilidades
Quando fui adulta,
vi-me nas letras de um computador
em textos só meus
absolutamente protegido por senha.
Agora, no fim da vida,
é como me vejo:
uma infeliz protegida por uma senha
que eu mesma já esqueci qual é.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Vezes

Às vezes eu sinto que quero fechar os olhos
e tão somente não pensar em nada
Mas me atormentam as imagens do passado
Mas me atormentam as incertezas do futuro
Queria correr para fora de tudo isso
Mas tudo isso está dentro de mim
E não consigo me esquecer...
Às vezes eu sonho com minhas mortes
Para que as dores me fujam
Mas, não morro, e meu sofrer continua...
Às vezes eu queria ser eu com menos idade,
Mas também sonho em que o tempo acelere
Meus dias me escravizam em pensamentos
E eu me prendo em meus julgamentos
Penso ser máquina, penso ser pedra.
Às vezes eu penso que não irei nunca secar minhas lágrimas
Mas, eu penso,
Eu sou eu e estas lágrimas

sexta-feira, 13 de junho de 2008

SAUDADE

É quando ocupo meu dia inteiro e ainda sobram horas para um vazio que não sei o que é.
É quando junto a lembrança do olfato, da audição, do paladar e não tenho mais o tato, nem a visão.
É quando versejo e quando não consigo versejar.
É quando me sento em frente a uma cadeira vazia.
É quando meus travesseiros dormem e eu não.
É quando penso no ontem sem a certeza do amanhã.
É quando estou no avião e não há uma mão para me acalmar.
É quando estou na estrada e meus pensamentos não param.
É quando escuto uma música ou quando todas as músicas fazem lembrar.
É quando queimo e jogo fora todas as lembranças materiais, mas elas se impregnam em minha mente. Não consigo me livrar.
É uma dor pra dentro, cujo remédio é o tempo. Mas ele nem sempre funciona...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Fim de linha

Eu tava na linha,
Eu tava na minha,
Eu tava na dele,
Eu tava sozinha.
Quando você apareceu,
Me tirou da linha,
Me tirou da sina,
Me tirou da rua
Me deixou na sua
E tudo mudou.
E agora, que tudo mudou?
E agora?

FILOSOFIA

Ouvi de um taxista:

1 - Tristezas não pagam dívidas
2 - O impossível a gente vai fazendo aos poucos, mas os milagres demoram tempo demais.

FIM – PARTE IV

Eu não estou mais aqui.
Parti de mim mesmo
Para secar lágrimasde um amor que foi só meu.
Nada me deves.

De minha parte,
Nada restou
E, para mim,
também não há nada
Senão o aceno apressado
De quem não se conhece...
Se nunca nos tivemos
Também nada nos devemos.

O abraço que nunca havíamos dado
Demo-nos, enfim, no fim.
Era aquele e não o sabíamos
Tanto que o desejei
sem imaginar que seria o aceno final.
Nada lhe devo, portanto.

Seguirei distante, deixo-te com os teus
E me vejo ainda buscando sonhos
Que jamais tive,
Que sempre quis
E os buscarei
Todos os dias da minha vida.
Pois eu os devo a mim mesma.
E os terei.

Quanto a ti
,desejo que sorrias sempre
Tens encantamento no riso
Não aches que me fizeste mal
Aprendi a me ver com tua calma
Ainda não descobri o tal sonho impreciso
Mas o que hoje sou tem muito de tua alma.

terça-feira, 10 de junho de 2008

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Ouvi falar que

Quem não bebe não tem histórias pra contar
Não vê o mundo girar
Nem escreve poesias...
E o que seria da vida sem versos?
Um barco sem rumo, disperso,
Uma vida vazia,
Vadia...
Viver com muito prumo não serve
Há que se ter na veia a verve
Da paixão, do sonho e da ousadia
Essa porra que alucina
E mesmo que me julgues menina
Ex-senhora de tua sina,
Tenho algo pra te ensinar.
De chegada ou de partida,
Saber isto me eleva:
O que se leva da vida
É a vida que a gente leva.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

EGO

Sou um errante vagando em linhas malfeitas
Perdido entre dois mares, um navegante
Quando é hora de partir, não me ergo
Posto que para chegar, não me enxergo.
Apenas sigo entre andar e descansar
E morrer e me acalmar...
Buscando algo de propósito
Posso sorrir, não me lamento
Nem me empresto ao desespero vão
Tampouco à quietude voraz
Se é de seguir, serei alma viva
Se é de parar, que paire em paz.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

PARTIDA

Vejo com olhos de lágrima
O infinito se afastando de mim
E a distância, companheira algoz dos últimos tempos,
Dilacera a ausência de minha alma já tão estanque.
Não, eu não estou partindo!
O presente é que me vai saindo aos poucos
E para qualquer lugar que olhe,
Eu só enxergo saudades...
Depois de tantos aplausos vividos,
Abandono meus verões de camarim.
E o que ostento agora é apenas uma capa do meu eu
Para suportar o frio que paralisa minha esperança.
Sozinho, cerco-me de desconhecidos
Que não se importam em saber o que sou.
Se disso eu soubesse antes,
Jamais teria subido no palco...
Jamais teria cedido minha arte à vaidade...

sábado, 29 de março de 2008

DEZEMBROS

O que mais sinto falta em mim é minha saudade.
Mas não uma saudade incerta, ao léu, deserta...
Sinto falta de sentir falta de algo inexorável...
Ida e volta, sofreguidão, alívio, choro e riso
Estado lastimável de sombra apática
Colhendo as sobras dos desejos alheios.
A dor é prática. Meu pensamento, não.
Meus lamentos perpassam meus anseios
Dores se disfarçam em rótulo de mulher brava
E em tudo aquilo que eu sonhava
Eu mesma pus os arreios.
E ao olhar para mim mesma
Cresço-me por não ser mais a menina
aquela da sina repetidamente rejeitada.
Sou-me eu e minhas circunstâncias.
Brava mulher de amores e ânsias...
E, mesmo assim, no topo dessa segurança,
ao olhar para o lado, com os teus olhos
Só vejo pessoas melhores...
como se eu nunca fosse o bastante,
o suficiente, o desejável...
Por mais que eu corra, não chegarei a ti
Por mais que eu tente,
Por mais que eu morra,
Tudo será em vão.
Escuto calada a frieza de teu silêncio
Talvez para adiar mais uma dor.
E, ao mesmo tempo, perfaz-me a certeza
de saber o meu caminho
que não é mais teu.
Pois tu me deixaste tão sozinha
Que o abandono me levou ao medo
E meu segredo foi desvendar-me
E saber que não te sei.
Ficava tão à mercê da tua querença
que tua presença foi se ausentando de mim.
Não tenho saudades tuas, mas queria.
Lembro apenas de coisas boas que nao se repetirão.
E, ao selar mais esta carta, um fato me apraz
Eu me digo que consigo seguir para o novo
de novo e sem medo.
Sem olhar para trás.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Sonato

O que me faz mais falta no mundo
São os braços dele quando acordo
Ante meu sono leve ou profundo
é daquelas mãos que me recordo

Sofrer de um amor doce e distante
É minha sina amável e cruel
Penhorar esta vida no semblante
De quem me soube extrair todo o fel

E, afinal, o que seria o amor?
Mais do que extrações consentidas
Daquilo que ‘inda nos inflama

E por mais que nos sanem as feridas
Haverá sempre mais uma chama
Para apagar, de teu abraço, uma dor.