Venho passando minhas décadas ao lado de minhas letras,
palavras que são companheiras,
alentadoras desse sofrimento que não consigo expulsar
Mesmo quando sorrio, ele me persegue
Ainda que em êxtase, está lá ele.
e de mim não sai
Por isso, escrever é minha morfina
Mais forte que o choro,
que orações
que mãos amigas ou irmãs
Escrever, sim, expurga-me de mim mesma
Quando era menina
e achava que sabia muito do mundo
estávamos eu e um fiel diário de anotações
com um cadeado para que ninguém me violasse mais
Quando era jovem
e tinha certeza de que sabia de tudo na vida
apenas o papel compreendia meu mundo
mas rasgava tudo para não revelar minhas fragilidades
Quando fui adulta,
vi-me nas letras de um computador
em textos só meus
absolutamente protegido por senha.
Agora, no fim da vida,
é como me vejo:
uma infeliz protegida por uma senha
que eu mesma já esqueci qual é.
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