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sexta-feira, 1 de junho de 2007

VIDA DE CARACOL

Duas metades separadas
Como sangue que verte sem lágrima
Como chuva que cai sem cheiro
Como livro que se lê sem página
Como dor que se sente primeiro

Olhos de mágoas imundas
Insônia, cansaço, maldizeres
Não vemos a ânsia profunda
Nem enxergamos amores e quereres

És um todo e de ti sinto falta
Como se não mais conseguisse caminhar
Sem teu verbo, sem tua alma
Sem tudo de ti a me alarmar

Pesa-me a muito vida
como se não merecesse o mundo
Mais uma vez se abre a ferida
Antes estancada em sono profundo.

Não vou prosseguir sem tua mão
Pois onde piso tenho medo
Deixa-me aqui ou toma este coração
Que para ti nunca teve segredos

Estamos em terreno alheio
Só conhecemos o caminho de volta
Ou este amor diz a que veio
(e abriremos todas as portas)
Ou nos fecharão o destino.
E, sendo assim, no fim do fascínio,
Rasgaremos a página morta.

Veremos lágrimas e veremos riso
Sem esquecer a maior essência
Aquela, o desatino do siso,
A que nos faz perder a ciência
A que nos impele um para o outro
Na mais tolerante paciência
A que nos une no amor mais louco.
Na mais primitiva querência

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